quinta-feira, 16 de julho de 2009



Maldito aquele que de alma aberta
Encara o espelho
Que constrange seus temores
Sob a clareza da sanidade

há de necessitar um dia
dos próprios segredos
abraçar o próprio peito
fugindo do mal escondido
a sombra de si

por hora
renda-se à vida
construtora dos abismos e cicatrizes
que sustentam o lixo
à fim de que se reconstrua todos os dias

nunca estar completo
por essa fome

tão infinita quanto ela
não morrer antes do corpo.

sábado, 11 de julho de 2009

Olhares das crias

Mesmo faminto sabia que era melhor que estar morto o bastardo da cadela solteira que se engraçou com o primeiro vira-lata que aproximou do portão.

Queria voltar às patas da mãe, durante dois dias foi seu maior sonho dentro de uma sacola num terreno baldio.

Pobre cãozinho, as orelhas maiores que a cabeça, uma ferida na pata e pulgas do tamanho das unhas.

Encontrado por um homem grosseiro de cheirar mal e nunca sorrir. Mas havia ternura ali dentro daquela casca cascuda cheirando mais forte que seu vômito. Dividiam a mesma comida, o mesmo papelão e a mesma rua. Mesmo humano, parecia entender o valor do céu que compartilhavam.

Tinha valores de um cão aos olhos do cãozinho, e dos transeuntes.



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"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.