quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sonho de Pano

Espera ansiosamente o fim, para cumprir o trato, mesmo estando incomodada pelo roço da pele enrugada, o cheiro de álcool e as reações do seu corpo sensível demais para ter a intimidade atacada por aquele velho. Por esta força que não pertence ao corpo aguenta paciente.

Tragada pelos dedos grossos, seus poros se rendem ao toque forte, em seus ouvidos resfôlegos dançam com gemidos. Seus olhos brilham, deslumbrando a boneca de pano com sorriso bordado, encostada na cabeceira da cama.

Ensejando a companhia doce e o pano macio, olha a tarde pela janela, se não escurecer brinca com ela ainda hoje. Nessa visão laranja sonha com a recompensa, por enquanto trêmula a alguns palmos do seu rosto.

Finalmente acabado, espera quietinha o velho fechar o zíper e atravessar a porta. E então corre e segura forte a bonequinha entre os braços.

Cochicha no ouvidinho costurado:

"- Tá tudo bem, agora cê tá comigo, eu vô cuidá de você.... "






"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.