quinta-feira, 14 de maio de 2009



Borboletas no estômago


A menina era tão pequena para o mundo, que vivia enfiada em seus poemas guardados num caderninho brochura rosa.

Chovia forte, e ela desprotegida protegia o caderno nos braços finos que o vento balançava. A perninha perdida na água da enxurrada o deixou cair de suas mãos e descer boiando até o esgoto. De desespero ela chorou tanto quanto o céu.

O cadáver de uma borboleta violentada pela tempestade boiando n’água suja. O tempo permaneceu fechado dentro dela. Do romantismo, os sonhos afogados.

Primeira experiência, depois viria o casamento estável, e esse sentimento constante de borboletas mortas no estômago.

domingo, 3 de maio de 2009


Depois de engolir o céu



Há dias de vida, outros a gente corre com olhos distantes, queremos fugir do que somos, mas nós sempre somos nós em nós. Até no desejo de fugir.


- Não há por que sentir medo - pensava. Depois de completar mais uns segundos de entusiasmo, nem mesmo a premonição de voltar breve ao mesmo estado de estagnação interrompia a sensação doce do meu sangue. Poder me encarar no espelho quase me dando por satisfeito, por conseguir ignorar a luz do sol e depois das estrelas, onde Deus sempre me convidava a reconhecer ironicamente as sombras que escondia.


Abri os pulsos com desculpa de lavar as mãos com o sangue doente. Ainda em tempo Deus voltava com o sol, em vão, minha ânsia era clara e doía em branco, cegava todo poder de fora. Eu deixava de ser cada célula imatura brigando e invadindo os meus tecidos que também eu era. Os desmaios, as dores, a palidez e a leucemia.


Os segundos mais agudos, eu era intenso, quase um sorriso se despedindo de mim.


"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.