quarta-feira, 25 de março de 2009

Precipitação

Mesmo que chova como sempre quando faz noite em sua casa, e o céu gelado da tua sala me convide a cair de sono pela paz imposta no silêncio da nossa fé. Os quadros continuam fazendo menção as horas que nossos olhos precisam explorar horizontes mortos, pra manter o brilho que resta no mais intimo da nossa espera.

Esperamos um ao outro com o mesmo tom de voz quase inaudível por entre nossos dias, sempre nublados, dizendo que não aguentamos. Certamente diríamos mais:

- Sempre existiram cores em algum canto, mas esquecemos, esquecemos como as crianças esquecem seus tesouros entre as décadas, e depois passam a viver tentando lembrar, de algum canto, alguma lembrança empoeirada num lugar seguro fora do seu caminho. -

E se pudéssemos retomar numa direção contrária a essa que caminhamos por alto em nossa vista, e sentíssemos nos dedos, a textura de mil coisas que nos encardia de vida e sol. Talvez lembraríamos.

E em qualquer lugar, em qualquer estação, numa casa cheia de rastros, tão cheios da corrente de ar invadindo nossas paredes, não nos esconderíamos da chuva.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Inverno

dizem as más borboletas, que será inverno
sem terem pra onde ir
as pobres flores

clamam a terra que as proteja
enquanto a poeira sussurra sagaz
arrastada pelo vento

de flor em flor

desmentindo que o chão
pudesse as segurar.

e cada pétala de esperança

murcha
engolindo a noite fria

segunda-feira, 16 de março de 2009

15 anos a idade de todas as Cinderelas.



"Sonhar é acordar-se para dentro." (Mario Quintana)


Presenteou-se com o vestido mais lindo de uma butique cobiçada há uns três anos por ela

Maquiou-se numa atenção demorada, primeira vez que se deu o valor de realçar contorno ao azul dos olhos.


Deu-se ao luxo de escolher seus príncipes.


Cobrou o dobro essa noite sem nenhum receio


Era a rosa mais bela da Rua Augusta.


.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Das luzes que dissolvem a essência


Depois dos quinze eu fui infelizmente abrindo os olhos, não como nas idades de sol, onde uma lente de ingenuidade mantinha o coração protegido, um tempo depois os olhos estavam nus, cortados pelas luzes mais vulgares da vida.

Esbarro com uma série de fantasmas, separados entre si por qualquer forma comum de status, eu vejo todos iguais, apenas fantasmas que se arrastam pra serem considerados melhores entre si, mas que nunca deixam de serem espectros presos aos passos uns dos outros. Carregando uma luz absolutamente seca nos olhos.

Minhas orações quase que pararam de sonhar, e só tem me abastecido de fé pra poder caminhar junto aos passos fora de casa. Preocupo-me muito pouco com Deus.

Dos meus medos, o pior é ver que minha alma tem respirado muito pouco, e a vida que vai invadindo esse buraco aberto nos olhos, tem me tornado em cada temperatura diluída, mais frio, mais fantasma. Mais preparado.

.

"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.