Os assassinos de luz
“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!”.
Mateus capítulo 6 versículos 22 e 23.
Há dois dias tenho os olhos negros pairando sobre a menina negra. Dela escorre estranheza, que desliza pelo meio fio e vai poluindo o resto do cenário, absorve toda a imagem alegre pelo abismo escuro dos hematomas que espalham violência no seu corpo. A imagem dos meninos, das gostosas e tudo que saltitava em cores no ambiente, é sugado pra dentro daquele corpinho de penumbra. A rua se torna assombrada.
Ela só se levanta por atender vozes de inferno, que a chamam pra dentro da casa. Lá vai a menina negra com os passos feitos fumaça caminhando até o bar. Trazendo na mão cigarro e cerveja, hoje diferente de ontem, não aceitou as balinhas de troco, por isso não tem o breve resquício de azul que capturei por segundos antes que entrasse na casa, como da outra vez, mas também não tem o borrão roxo circulando os olhos que tinha ontem, ao voltar pra calçada.
Minhas cores vão se atrelando ao portal hostil que a menina carrega na feição, me segura num lacre desconfiado confinado a chacoalhões, tabefes e um desprezo que ela despenca com o olhar tímido permanentemente cravado ao chão.
[permanentemente cravado no chão]
ResponderExcluir"De palavra em palavra, vai se estabelecendo a admiração"
Grata pelas tuas linhas. Beijos
esse mto lindo.
ResponderExcluira escolha das imagens tanto poéticas quanto as fotografias para compor no blog, são mágicas.
Além deste teu bom gosto que parece ser algo de instinto, é tudo tão estranho e tão familiar, e tão faminto.
vc é fascinante meu amigo, e sua escrita é o reflexo disso.
Achei, ao mesmo tempo, forte e delicado. Pegam a gente lá ´por dentro e dão uma torcidinha. Dói, mas é bem bonito! Parabéns!
ResponderExcluirUma salva de palmas !
ResponderExcluirLindo texto!! Causa uma estranheza gostar de algo que lembra violencia, que tras violencia. Mas será que podemos negar que há beleza em perceber a realidade cruel. Não é o primeiro texto do assunto que leio vindo de ti. Deste gostei mais do que do outro. O outro era uma boneca de pano, aqui são balas. Adorei!
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