quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sonho de Pano

Espera ansiosamente o fim, para cumprir o trato, mesmo estando incomodada pelo roço da pele enrugada, o cheiro de álcool e as reações do seu corpo sensível demais para ter a intimidade atacada por aquele velho. Por esta força que não pertence ao corpo aguenta paciente.

Tragada pelos dedos grossos, seus poros se rendem ao toque forte, em seus ouvidos resfôlegos dançam com gemidos. Seus olhos brilham, deslumbrando a boneca de pano com sorriso bordado, encostada na cabeceira da cama.

Ensejando a companhia doce e o pano macio, olha a tarde pela janela, se não escurecer brinca com ela ainda hoje. Nessa visão laranja sonha com a recompensa, por enquanto trêmula a alguns palmos do seu rosto.

Finalmente acabado, espera quietinha o velho fechar o zíper e atravessar a porta. E então corre e segura forte a bonequinha entre os braços.

Cochicha no ouvidinho costurado:

"- Tá tudo bem, agora cê tá comigo, eu vô cuidá de você.... "






9 comentários:

  1. Muito bom. Bem escrito.. a imagem vem na cabeça só de ler..

    parabens Déh.
    abraço!

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  2. Foda, cara! Muito bom mesmo!

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  3. Olá Dr. Pinicodemos...!!!
    Fiz propaganda de um texto seu, no ultimo podcast dos anjos da alegira... para acessar é: www.anjosdaalegria.org.br, e ir no link "podcast anjos da alegria", e escutar o ultimo episódio - 005.


    Abraço!!


    Dr. Kyndin!

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  4. Sufocante.

    Perdi as palavras por entre as minhas entranhas enquanto lia.
    Sufocante e Só.

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  5. Ficou muito bom *_* Parabéns,adorei!!!

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  6. "- Tá tudo bem, agora cê tá comigo, eu vô cuidá de você.... "

    além de todo o escrito e relevância, tem versos teus aqui, mais do que idéias, mais do que lirismo.

    tem o verso dos meninos do pai e do cachorro.
    saudade daqueles, posta aqui também.

    Grande prosa, por significado e lirismo.

    Gosto da tua prosa e de toda a tua poesia, mas gosto mais quando as duas se unem, e trazem todo o encanto do amigo.

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  7. Seu texto mostra que palavras tão belas podem as vezes representar um contexto tão cruel. Parabéns pelo dualismo!

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"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.