sábado, 20 de dezembro de 2008

“Quebra cabeças”

Americana, 20 de dezembro de 2008




Isso aqui é muito sério. Hoje eu tive a certeza que em uma classificação de “gente estabanada” eu devo ser um dos Estabanados - Premium.


Hoje no meu primeiro dia de férias marquei ensaio sem compromisso com um pessoal que tocava um tempo atrás comigo, marcamos pras nove da manhã e pra começar eu me esqueci de colocar o relógio pra despertar, acordei com o celular tocando e gritei: - Puta merda! - Enfim já eram 09h10min perdemos 10 minutos do estúdio. Aprontei-me numa velocidade incrível, dessa vez sem colocar duas cuecas (outra história de estabanação) montei no carro, e vi que a luz que avisa que o combustível está na reserva estava acesa, mas não tinha tempo de passar no posto, então me sujeitei a ir assim mesmo.


Como previsto (e lá no fundo eu sabia que isso ia acontecer mesmo) acabou o combustível em uma Avenida movimentada, e pra ajudar eu estava parado na faixa da esquerda. Olhei pro carro, pro movimento e vi que estava fudido. Ouvi um cara dizendo: - Amigo monta no carro - Acreditem nem olhei pra trás segui a recomendação da voz e deixei o carro ser empurrado até o canto onde estacionei, desci do carro, o cara com toda a gentileza do mundo e me perguntou se eu sabia o que havia com o carro, juro que na hora fiquei com vergonha de admitir, então disse que as velas de ignição pareciam entupidas e simulei uma tentativa de limpar os bicos de injeção. Agradeci muito a ele, porque foi horrível a cara de cu com a qual me olhavam enquanto estava lá parado no meio da pista, um bando de gente carrancuda, ninguém pra pelo menos parar uns dois minutos até eu conseguir levar o carro pro canto.


Depois do cara se despedir, respirei aliviado: “- Pronto agora posso ir buscar a gasosa”- Cacei uma garrafa pet pelo carro e nada, nem uma garrafinha de água, nada! Isso porque meu carro é enfornado de tudo quanto é tranqueira, cadernos, banners de propaganda que dão no sinal e eu não jogo na rua, mas também me esqueço de jogar em casa, capinha de cd sem cd, entre outras acumulações. Enfim, a bendita garrafa pet não fazia parte desse meio.


Fui a um posto próximo dali, e perguntei se tinha uma garrafa pra me emprestar, e não tinha. Só um desses saquinhos de emergência que parecem aqueles saquinhos que dão quando você compra um peixe no pet shop, uma vez peguei um desses e derramei mais da metade da gasolina pra fora do tanque (sim, em outra situação que deixei o combustível acabar). Como sou um gênio do improviso, fui até a lojinha de conveniência e comprei uma garrafa de refrigerante, se a moça do caixa não tivesse olhos azuis nem ia comentar, mas contei pra ela que estava comprando pra jogar fora, então a convidei pra um refri comigo, sacomé. Ela muito discreta, pegou uma jarra e falou: - Joga aqui moço - Enfim esvaziada a garrafa fui ao carro, nisso meu amigo já estava comigo, pois ligou no meu celular devido à demora e foi ao meu encontro.


Chegamos ao meu carro, coloquei a carteira sobre o teto, girei a chave na tampa de combustível, coloquei-a com desvelo no chão e “consertei” o carro. Montei de novo, desesperado com o horário e corri pra outro posto, cheguei lá, cadê a carteira? Naquele momento queria arrebentar minha cabeça no volante. Burro, burro, burro! Deixei-a em cima do teto solta, devia ter caído pela avenida, merda, merda, merda!


Enfim, montei no carro do meu amigo, e fomos refazer o caminho. Voltamos desde onde meu carro estava parado, mas foi em vão. Nem vestígio da fulana, pensei uma série de coisas, tipo: - To fudido, to fudido e to fudido! Voltamos ao outro posto onde deixei meu carro, peguei uns nove reais emprestados e coloquei de álcool. De repente, enquanto estava me despedindo do meu amigo e ia tentar retomar o caminho a pé. Eis que o ouço ao telefone: - Sim o Willian sou eu, sim o André está comigo. Pensei, não é possível! Mas era.


Por sorte na noite passada, tinha marcado o telefone do Willian em um lembrete e colado dentro da carteira, porque tinha esquecido o celular em casa e teria de anotar na agenda depois. Ele passou meu número pra pessoa e a pessoa me retornou. Era uma voz de senhora:

- Olha moço, achei seus documentos.

Documentos?! Mas e toda a grana que estava dentro, e a carteira? Ferrou minhas férias, fiquei duro, sabe-se lá o que pode ter acontecido talvez alguém antes dela deva ter achado e jogado os documentos, sei lá. Sabia que minhas férias seriam bem diferentes do que havia pensado.
Mas já era melhor que nada, pelo menos os documentos a salvo. Pelo menos minha habilitação que não pode ser renovada por causa do numero grande de pontos, enfim. Pelo menos alguma coisa.

Cheguei ao endereço que ela me passou, e ela estava no portão com o marido, me viu descendo do carro afobado e perguntou toda calma:
- André?
- Sim, sim.
- Olha seus documentos.


Ela levantou a mão, e lá estava minha carteira, não só com os documentos, como ela disse, mas com tudo. Meu cartão, minha grana das férias, tudinho!


Ela ainda preocupada dizendo que não havia pegado nada, até um pouco constrangida em ter mexido na carteira. Disse-me que o dinheiro tinha voado pela avenida que ela saiu catando. Eu estava abestalhado com a disposição dela em ajudar, agindo como se fosse obrigação dela, entendem?

Queria cair de joelhos na frente dela, não me cabiam as palavras.


Não só por ter encontrado minha carteira, não só por me ligar. Mas ela era mais humana do que eu sou acostumado a ver por aí, depois de encarar todas as caras de cu na avenida eu estava diante de um ser grandioso, que além de simplicidade tinha um semblante leve. Morrendo de vergonha devolvi cinqüenta reais pra ela, no qual tive de insistir muito pra que aceitasse, e aceitou só depois que eu pedi pra que ela me deixasse sentir pelo menos um pouco agradecido. Comecei a entender a coisa do “documento” acho que foi o que ela encarou com mais importância ali dentro, os meus documentos e a necessidade que eu tinha deles.


Não conseguia ir embora dali, agradeci a eles de todas as formas verbalmente possíveis, passei o telefone da loja, pedi pra que me ligassem quando precisassem, sei lá, qualquer coisa. Depois quando entrei no carro, fui deliciosamente ligando os fatos. O cara que empurrou o carro na avenida, o lembrete com o telefone do Willian, o fato de eu perder hora, de eu ser um estabanado, essa senhora que passava justamente nesse momento naquela avenida cheia de carrancas, o GPS que me levou até a casa dela, eu sair correndo pela avenida com a carteira solta no teto do carro, os problemas do meu carro, minha cabeça voada, estar próximo do natal, esse mundo de correria, meus amigos, minha família, o fora implícito da atendente da lojinha do posto, meus neurônios tontos.


E todos os traços que me tem feito cruzar com uma quantidade grande e rara de anjos.


Espero ansioso pelo dia no qual entenderei verdadeiramente porque eles têm sido trazidos pra perto de mim.
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André Ulle

3 comentários:

  1. " Os Anjos do Senhor acampam ao redor daquele que o Temem e os Livram " ...^^...

    Grande Beijo

    TaTi

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  2. sim se vc naum abastceer os carros acabam gasolina nunka mas dexe carteira no teto porq elas voam ih alem de tudo se concentre em DEUS q mesmo nas loucuras eli somente sabe como te ajudar

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  3. Bom demais o texto! Tive que ler até o fim! "Sacomé!" (rsrsrsrs) A história é real?

    Abração.

    Pedro Antônio - A TORRE MÁGICA - www.atorremagica.blogspot.com

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"Não me venha com mais infância"

De todas as infâncias aqui vividas, aqui postadas, aqui lembradas, eu não quero mais lembranças de uma infância. Seja sempre criança, não me venha com infância, infância é coisa de quem já envelheceu. Envelhecer é coisa de coração que vai morrer. Não me fale de infância, aqui somos eternamente esses olhos encantados.