Alzheimer
- Onde estamos?
Beija como na primeira vez, os dois se degustam, ignorando o ambiente. Não, o tempo não importa mais, não como antes, que se lembrava o tempo todo do tempo que não podia perder. Agora nem o tempo mais arquivava sentimentos profundos, o romance prevalecia por ser alma pura ali despencando, roçando no tapete.
- Onde estamos?
A fraqueza da língua mutilando qualquer intenção de resposta, o cérebro não ajudava.
Beijou- a novamente, ela perguntando centenas de vezes a mesma coisa, não havia mais respostas, mas o coração ainda se contorcia no peito, lhes sobrava instinto. Ele não podia responder mais nada, os olhos despencaram, já não sabia diferenciar ela da TV desligada. Sem mais nenhuma reação, o vento frio que atravessava a janela aberta atingiu seu corpo nu, a pneumonia era só um empurrão, caiu duro na sala.
Ela se viu perdida, era tudo muito estranho e inaceitável, aproximou-se do corpo gelado do marido:
- Onde estamos?